O PSD com a austeridade colada na testa
PSD surgiu no debate do programa do Governo a pedir a acomodação das tensões inflacionistas nos salários.
Este é, aliás, o mesmo PSD que, meses antes, tinha estado contra o aumento do salário mínimo. Mas não ficou por aqui e, algumas horas depois, acusou o Governo de António Costa de estar a preparar políticas de austeridade. Parece algo completamente novo da parte do PSD, mas é apenas o mesmo de sempre: a mesma desorientação, o mesmo equívoco.
O combate à inflacção é um dos maiores desafios da política económica dos tempos de hoje. A história económica já demonstrou que algumas das medidas aparentemente mais óbvias têm, por vezes, efeitos contrários aos desejados. Não é apenas a ciência a justificar esta tese, é também o comportamento humano — o impacto das expectativas. O PSD tem muita gente que sabe disto, mas mesmo assim não hesitou em se colar ao BE para alimentar a ideia de que, independentemente de uma avaliação mais consistente sobre o fenómeno inflacionista que se vive hoje, aumentar os salários acima da inflação, e sem envolver os parceiros sociais, resolve os problemas da redução do poder de compra que o aumento geral dos preços está a provocar nos cidadãos.
Aumentar os salários na linha do BE, PCP e, surpreendentemente, do PSD tende a provocar mais inflação e menos poder de compra.
Não é esta solução que ajuda o povo. É um erro de palmatória, mas também é uma irresponsabilidade propagar este caminho. É claro que, por enquanto, não há dados para saber se esta inflação veio para ficar. Por isso mesmo, o BCE não apressou as tradicionais medidas de aumento da taxa de juro. Acredita-se que é conjuntural, mas, se durar muito, o caminho continua sem ser o aumento de salários ao nível da escalada inflacionista. Se durar, o caminho passará pela política monetária e essa está em Bruxelas.
Já em Portugal, as medidas têm de continuar a ser aquelas que podem conter os danos junto dos mais desfavorecidos, da protecção do poder de compra de todos os portugueses e do reforço de medidas junto do tecido empresarial. Num caso desses, o aumento das taxas de juro, com origem em decisões da política monetária europeia, levará a um arrefecimento da actividade económica e a um eventual aumento do desemprego. Se isso ocorrer, há que calibrar a política e continuar a atacar a origem das tensões inflacionistas, seja nos custos de produção, seja, em particular, na energia, seja em acelerar o apoio ao investimento, mas, também, no reforço directo na ajuda aos mais desfavorecidos e desempregados. Numa crise destas não há varinhas mágicas, há controlo de danos, soluções arrojadas e a manutenção de uma intervenção corajosa avançando e recuando para proteger o poder de compra e salvaguardar a actividade económica.
Quanto à acusação de austeridade, o PSD transcendeu-se. Foi o principal responsável por dar significado económico à expressão “austeridade”. Foi com a coligação PSD-CDS que Portugal observou o maior aumento de impostos da história portuguesa e a maior quebra na despesa de que há memória em aspectos fundamentais como o Serviço Nacional de Saúde, o investimento público e até nos rendimentos dos portugueses com cortes cegos de salários e pensões. Para confirmar esta conclusão basta analisar os orçamentos da época e observar os quadros anexos que
traduzem medidas de austeridade que correspondem a elevadas percentagens do PIB. Por tudo isto concluo com saudável curiosidade que o PSD inventou uma outra forma de austeridade: a que baixa impostos e aumenta a despesa.
O autor escreve segundo o antigo acordo ortográfico