A economia portuguesa à mercê da fanfarronice
Ao fim de quase dois anos de governo AD é possível alargar a análise a outras variáveis e julgo ser compreensível visualizar um vermelhão nas bochechas de alguns protagonistas.
O INE reviu os dados macroeconómicos de 2023/2024. O país ficou a saber que em 2023, o último ano de governação socialista, Portugal cresceu 3,1%. Com estes dados também se conclui que dura tempo o período 2015-2023 o crescimento médio foi de 2,2%, sempre acima da média da UE, excepto o ano da pandemia . Este dado é muito relevante porque se compararmos com os resultados da governação da AD em 2024, também revisto pelo INE, o crescimento fica abaixo da média obtida pela governação do PS. Além disso, a perspectiva para 2025, apresentada pelo Conselho de Finanças Públicas é abaixo dos 2% ( 1,9) e até 2029 a média do crescimento deverá se fixar em 1,8%, com o alerta que para isso é preciso manter saldos migratórios positivos, porque são eles que arrastam o produto potencial. Há um ministro, que costuma soletrar conferências de imprensa, que anda numa cruzada para estoirar esta vantagem, tornando a sua manutenção no governo como o risco mais significativo da, já de si pequenina, projeção do CFP. Mas porque interessam tanto estes dados ? Porque é a melhor resposta à fantasia da AD. Por um lado revela os embustes que foram os dois enquadramentos macroeconómicos pré eleitorais, que projectavam crescimentos económicos irrealistas, nunca acompanhados por nenhuma instituição nacional ou internacional. Mas por outro, a realidade está a demonstrar o quão errados e empolados estavam essas previsões. Além disso, o próprio OE2026 discorda do Miranda da Campanha eleitoral . Tudo isto é mais rocambolesco quando se analisam as declarações do governo, em particular do ministro das finanças , que, do alto da sua arrogância parola, sentenciava que não havia grandes dificuldades em colocar a economia portuguesa a crescer acima dos 3%. Pelo que já sabemos hoje, não só não acontecerá crescimentos dessa grandeza, como provavelmente andarão sempre em torno de 2% de crescimento real, conforme aponta o OE2026. O mais vazio da democracia . Mas, estas proclamações circenses tinham um aliado: a redução do IRC como a trave mestra da aceleração do crescimento e a redução da carga fiscal. Tudo isso dizem estar no OE, mas a previsão do PIB continua “raquítico “.Ao fim de quase dois anos de governo AD é possível alargar a análise a outras variáveis e julgo ser compreensível visualizar um vermelhão nas bochechas de alguns protagonistas, sobretudo se tivessem vergonha na cara. O investimento que ia, segundo eles, disparar caiu; as exportações, que poderiam ajudar à sustentabilidade do crescimento, travaram a fundo, seja no crescimento homólogo, seja no peso no PIB, retrocedendo alguns anos. Para 2026, o último ano de execução do PRR o investimento previsto fica abaixo do que foi concretizado em 2023. A carga fiscal não regrediu, mesmo não sendo, como já não era, mais elevada que a média da UE. Mas, a redução da dívida em relação ao PIB deixou de cair ao ritmo que vinha caindo e, “voilà”,em 2026 os défices regressam, apesar do governo de previsões marteladas prever que será um saldo orçamental de 0,1% do PIB. Mais uma vez nenhum instituição séria acredita . Assim, o trajecto das contas certas fica em situação de alto risco! Pelo meio, há um ministro que aterra numa audição de economia e não disfarça que gosta mais de contabilidade merceeira do que de economia. Deambula na conversa fiada para esconder a manifesta falta de actualização académica, o que compromete as explicações que o país precisa para compreender o regresso ao poucochinho crescimento económico da AD e à falha sistemática na capacidade de prever – ambos “fenómenos” típicos do famigerado governo PSD/CDS de má memória.