A propaganda tem a perna curta
O CM publicou ontem mais uma sondagem demonstrativa da sensatez do Secretário-Geral do PS quando, apesar das discordâncias de fundo, decidiu viabilizar com uma abstenção o Orçamento para 2025 – se houvesse eleições, o resultado seria um parlamento igualmente fragmentado e o cenário de ingovernabilidade agravar-se-ia. Na mesma sondagem, o jornal demonstrava os elevados níveis de insatisfação dos portugueses com a Ministra da Saúde, sobretudo, mas também com a Ministra da Administração Interna, cuja impopularidade resulta da incapacidade que têm demonstrado para resolver os problemas que surgem e vão crescendo nas suas áreas.
Na Administração Interna, o caso tem assumido contornos tão graves que o próprio Primeiro-Ministro já se sentiu forçado a substituir a Ministra nas mais singelas funções ministeriais, assumindo, aliás, um discurso securitário perigosamente próximo da direita mais radical, amplificador do sentimento de insegurança na população. Cuidado, é um caminho que sabemos onde começa mas não sabemos onde acaba! Na saúde, a situação é ainda pior. O JN fez ontem manchete com a procura nas urgências do Serviço Nacional de Saúde. Segundo os dados oficiais do Portal do SNS, entre janeiro e setembro de 2024, as urgências do SNS atenderam menos 40 mil pessoas do que no mesmo período do ano anterior mas, ainda assim, os doentes tiveram períodos de espera mais longos. As razões pelas quais menos pessoas recorreram às urgências dos hospitais públicos podem ser várias, e é até possível que a implementação dos serviços de pré-atendimento telefónico que vêm sendo melhorados nos últimos anos seja o motivo mais provável; já a explicação para as demoras mais prolongadas só pode ser encontrada na perda de qualidade do serviço prestado. O Governo tem feito muita propaganda em tomo da redução dos tempos de espera para cirurgias oncológicas – temos a expectativa de que esses números sejam verdadeiros e possam ser verificados – no entanto, a realidade crua dos aumentos dos tempos de espera para atendimento nas urgências revela que os gravíssimos casos ocorridos com a falta de socorro durante os dias de greve do INEM não foram um fenómeno isolado.
O exemplo do Ministro da Educação deve servir para todos, a propaganda com números martelados acaba, mais tarde ou mais cedo, por ser desmascarada. É uma mentira e, como diz o ditado popular, tem a perna curta!
Fonte: Marcos Perestrello, Correio da Manhã, 04 de dezembro de 2024