Alterações climáticas: o relógio corre contra nós
O mês de julho foi um dos mais quentes registados no mundo. As alterações climáticas e o lastro de devastação que provocam não podem deixar ninguém indiferente e, sobretudo, não há espaço, nem tempo, para negacionismos ou aproveitamentos políticos.
Este combate precisa de seriedade, abordagem multidisciplinar, mudanças comportamentais e que sejamos capazes de agir enquanto pronome coletivo.
O Banco Mundial publicou em 2021 um alerta preocupante sobre os efeitos das mudanças climáticas na vida da humanidade já para os próximos anos: 216 milhões de pessoas em seis regiões do mundo poderão ser forçadas a sair dos seus países até 2050 para fugirem de eventos climáticos adversos.
Segundo o IPCC (The Intergovernmental Panel on Climate Change) Assessment Report, de 2022 até 2030, cerca de 250 milhões de pessoas podem sofrer por escassez de água em África, originando até 700 milhões de pessoas deslocadas. Tal previsão significa que, até 2030, metade do continente africano poderá deslocar-se devido às alterações climáticas.
Os refugiados ambientais são já uma realidade efetiva e devem poder incluir-se nas categorias definidas em termos internacionais para a obtenção de asilo e proteção. Aliás, a inclusão deste tipo de refugiados no Acordo de Paris foi um importante avanço. Alguns Estudos da Universidade de Columbia publicados na revista Science revelam que a Europa é um dos principais destinos de refugiados ambientais, verificando-se uma tendência crescente no aumento desses movimentos na última década.
Contudo, as alterações climáticas já afetam a Europa de diversas maneiras, consoante a região. Além de acarretarem a perda de biodiversidade, incêndios florestais, diminuição da produção agrícola e temperaturas mais elevadas, também podem impactar a saúde das pessoas e, sobretudo, afetam os seus direitos humanos à luz da declaração universal.
Sublinhe-se que, entretanto, o Parlamento Europeu aprovou a Lei Europeia do Clima em 2021, tornando vinculativo o objetivo de redução de 55% das emissões até 2030 e o de neutralidade climática até 2050.
Portugal tem estado na vanguarda deste domínio com a aprovação da Lei de Bases do Clima e a aposta no aumento do peso das energias renováveis em 80% da produção de eletricidade até 2026. Acresce que a concentração de esforços na redução de 55% das emissões dos gases com efeito de estufa até 2030 é determinante para enfrentar as alterações climáticas e garantir uma
transição justa.
Outra luta em que estamos fortemente empenhados é na de prevenir e diminuir a área ardida nos grandes incêndios, num país onde a esmagadora maioria dos terrenos está na posse de privados. A escassez de água e a seca extrema em que se encontra a Península Ibérica, e para a qual alerta a bióloga Helena Freitas, é igualmente um problema crónico que temos de enfrentar, por forma a preservar este recurso cada vez mais escasso.
Sabemos bem que o abandono do mundo rural, os cenários climáticos agressivos para a nossa floresta, o encolhimento da economia rural, o consequente aumento da biomassa que gera combustível natural e o desordenamento rural são fatores de risco que potenciam os grandes incêndios.
Os diversos especialistas reconhecem que temos hoje mais conhecimento científico incorporado no combate, evoluímos muito em termos de coordenação e cooperação entre os diversos atores que integram o dispositivo nacional de proteção civil e reforçámos os meios humanos e materiais nos últimos anos. Em 2021, foram investidos 316 milhões de euros no sistema integrado de gestão de fogos rurais, de acordo com a Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais, o que representa um crescimento de 120% face a 2017.
Não obstante todos os esforços e investimento realizado, a dimensão da área ardida e a devastação ecológica e económica causada interpela-nos a aprofundar uma cultura de aprendizagem e evolução contínua, e a avaliar estes grandes incêndios de forma sistemática, por forma a superarmos as fragilidades e enfrentarmos os desafios crescentes das alterações climáticas. O Governo e o Ministério da Administração Interna já avançaram com um conjunto de propostas muito oportunas nesse sentido.
O papel do poder local também pode ser muito relevante e os nossos autarcas estão cada vez mais empenhados no desenho de políticas públicas assentes na sustentabilidade, visando a criação de cidades resilientes e eficientes. Há que proteger os ecossistemas e advogar uma cultura de sensibilização da população para o papel ativo que podem ter na proteção dos seus territórios, do país e do planeta.
Os jovens já estão mobilizados para essa causa e, por isso, temos de continuar a apostar na educação, no comportamento e no conhecimento que abrem sempre as portas do desenvolvimento. Não há tempo a perder, porque o relógio corre contra nós!
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico