Inclusão com compromissos: Um apelo à ação
O Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, celebrado a 3 de dezembro, transcende o simbolismo. É uma oportunidade para reforçar o compromisso com os direitos fundamentais consagrados na Carta Universal dos Direitos Humanos e na Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Esta data desafia-nos a construir uma sociedade justa e inclusiva, que respeite a diversidade e rejeite a exclusão e discriminação.
Em 2024, ano em que celebramos 50 anos de Democracia em Portugal, esta reflexão ganha maior relevância. É essencial avaliar os avanços alcançados e a relação de forças com as fragilidades que persistem, redefinindo prioridades que garantam uma inclusão plena e sustentável.
Após séculos de exclusão e assistencialismo, Portugal avançou começou por atorar um modelo de reabilitação, sucedido pelo modelo biopsicossocial associado à Classificação Internacional da Funcionalidade e, finalmente o modelo dos Direitos Humanos que emergiu da assinatura a ratificação da Convenção. Sob Governos do Partido Socialista, foram implementadas políticas que consagraram direitos das pessoas com deficiência (pcd) na Constituição e transformaram o panorama nacional.
Entre as principais conquistas destacam-se:
· O Modelo de Apoio à Vida Independente (MAVI), que promove autonomia e autodeterminação;
· As quotas de emprego nos setores público e privado, que garantem oportunidades iguais no mercado de trabalho;
· A regulamentação de normas de acessibilidade, abrangendo edifícios, transportes, meios digitais e bens e serviços;
· Programas de financiamento como o PRR Acessibilidade 360º, focados em melhorar a acessibilidade na via pública e em edifícios públicos e habitacionais.
Estes avanços colocaram Portugal na vanguarda da inclusão na Europa. Contudo, os progressos alcançados não podem ser tidos como garantidos.
As pessoas com deficiência (pcd) continuam a enfrentar barreiras estruturais e sociais que condicionam a sua participação na sociedade. Desde a falta de acessibilidade à educação e ao emprego até estigmas sociais e maior exposição à pobreza e exclusão social, os desafios persistem. As mulheres com deficiência, em particular, sofrem dupla discriminação e estão mais vulneráveis à violência.
Infelizmente, o atual Governo da coligação de direita (AD) tem demonstrado fragilidade no compromisso com esta área. Durante as discussões do Orçamento do Estado para 2025, o PS levantou 20 questões intersectoriais relacionadas com a inclusão das pcd. Nenhuma obteve resposta substantiva. Promessas vagas e a ausência de medidas concretas evidenciam um desinvestimento preocupante e a falta de uma visão estratégica, ameaçando conquistas históricas e prejudicando políticas intersectoriais essenciais.
No Porto, a extinção da Provedoria Municipal dos Cidadãos com Deficiência, em 2017, simboliza o impacto negativo da interrupção de políticas públicas inclusivas. A decisão enfraqueceu a articulação entre serviços municipais, organizações representativas e o setor empresarial, comprometendo o progresso na inclusão. Atualmente, observa-se um retorno ao modelo assistencialista, distanciando de processos participativos e da capacitação da comunidade.
Com as eleições autárquicas no horizonte, é imperativo que o próximo executivo municipal do Porto realinhe as suas políticas com as diretrizes da Estratégia Europeia 2021-2030 para os Direitos das Pessoas com Deficiência. As prioridades incluem:
1. Investir em acessibilidades nos espaços públicos, habitações e transportes;
2. Capacitar recursos humanos municipais com formação técnica e sensibilização;
3. Promover a empregabilidade, incentivando a contratação de pcd pelo tecido empresarial;
4. Recriar uma estrutura municipal dedicada à conceção e monitorização de políticas inclusivas.
Neste Dia Internacional, o apelo vai além da reflexão: exige ação concreta. A inclusão requer coragem política, investimento estratégico e empatia para transformar a sociedade. Como dizia Maria de Lourdes Pintasilgo: “Se alguém privilegiarmos, que sejam os mais discriminados, os mais desfavorecidos. Outra coisa não nos pode pedir a justiça.”
É essencial clarificar conceitos e adotar estratégias que promovam a efetivação de direitos. A capacitação da comunidade e das instituições, aliada à representatividade e ao empoderamento dos mais vulneráveis, é fundamental para garantir que ninguém fique para trás.
O Partido Socialista reafirma o seu compromisso com a construção de uma sociedade inclusiva, mais forte, humana e justa. Uma sociedade onde a equidade assegura a igualdade e acesso a oportunidades iguais e cada pessoa pode definir os seus projetos de vida, independentemente das suas características, de acordo com as suas capacidades e vontade. Porque a inclusão verdadeira é o reflexo de uma democracia robusta e coesa, concretizadora de justiças social e espacial, aplicadas no espaço.
Fonte: Lia Ferreira, Jornal de Notícias, 03 de dezembro de 2024