Sobre a oscilação da taxa Euribor
A taxa Euribor é uma taxa de referência da média dos juros praticados por um conjunto representativo de bancos (52) na zona euro para empréstimos sem garantia entre si, sendo a forma abreviada de European Interbank Offered Rate (para os prazos uma semana, um mês, três meses, seis meses e um ano). Foi criada com o Euro em 1999, sendo utilizada como referência em produtos financeiros, como é o caso dos empréstimos bancários.
Entre o primeiro trimestre de 2015 e o terceiro trimestre de 2022, devido à política monetária do BCE, as taxas Euribor estavam com taxas de juro negativas o que, na minha opinião, considero artificialmente baixas, como forma de aumentar o investimento e fomentar a economia. Esse facto levou a que o embate do aumento das taxas de juro tivesse um maior impacto.
No caso português e do crédito habitação, acontece ainda que 90% dos créditos são de taxa variável, ao contrário dos outros países europeus. Isso torna mais incerto o valor da prestação, mas é o resultado de sermos um país não tão rico como a França ou a Alemanha, e da não existência de ofertas concorrenciais de taxa fixa. Contudo, importa que os estados fomentem o sistema financeiro a estas respostas e introduzam mudanças.
A Euribor no prazo de 12 meses (o mais utilizado no crédito à habitação) está hoje acima de 4%, o que leva, por exemplo, a um aumento na prestação de agosto que deve andar nos 48%. Dessa forma, o problema para as famílias pagarem os créditos à habitação configura-se como o mais grave para o orçamento familiar dos portugueses.
O BCE é independente e apresenta como mandato o controlo dos preços, esquecendo o crescimento económico, ao contrário da Reserva Federal norte-americana. Não vou entrar no debate da política monetária sobre a independência dos bancos centrais mas, do ponto de vista simples da teoria económica tradicional, o controlo da inflação é feito através do aumento das taxas de juro.
Não obstante, existem dois pontos centrais, para mim, esquecidos nesta política. Em primeiro lugar, a natureza desta inflação não são choques na procura, mas sim choques na oferta. Em segundo lugar, nem tudo na vida é um simples modelo económico ou econométrico. E, na ciência económica existem sempre escolhas políticas como, por exemplo, o nobel Krugman recorda, na introdução do livro “Discutir com Zombies”. E mais que seja dado como mero tecnicismo, a Economia apresenta sempre ideologia.
Bem sei da importância de tranquilizar os mercados financeiros e sistema financeiro, mas será que esta política cega de aumento de taxas de juro é a correta? Será que não estamos a destruir a vida das pessoas? O sistema bancário não apresenta responsabilidades? Temos de dizer não a este constante aumento e as suas consequências, e onde a culpa é dos trabalhadores e dos seus salários, segundo a principal responsável do BCE.
Paralelamente, os governos nacionais devem encontrar respostas para as famílias que sofrem com os aumentos, nomeadamente sobre o crédito à habitação, respostas essas que passam sempre pela recuperação de rendimentos e diminuição do impacto da volatilidade das taxas.
Só dessa forma as pessoas vão sentir na pele aquela que é a situação económica do nosso país, com Portugal nos países líderes do crescimento económico, e com resultados nas finanças públicas muito relevantes e históricos.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico