

Hugo Carvalho explica à direita que empresas públicas não são caprichos nem coisas abstratas
O deputado do PS Hugo Carvalho considerou hoje que só os “radicalismos de quem pensa que uma minoria de privilegiados representa o povo português no seu conjunto é que fazem com que o discurso fácil do ataque ao Estado valha para sempre”.
Hugo Carvalho defendeu, durante a interpelação da Iniciativa Liberal ao Governo sobre o Estado e as empresas, que “o Estado não é uma coisa abstrata e as empresas públicas não são uma construção abstrata, e a sua função também não é meramente financeira”.
O socialista criticou os “radicais que acham que um setor de atividade, mesmo que lucrativo, deve ser dado à carteira de alguns ao invés de ser canalizado para um progresso coletivo de todos”.
E deu o exemplo da ANA – Aeroportos de Portugal, referindo que a auditoria do Tribunal de Contas “concluiu que a privatização da ANA, levada a cabo em 2012, foi um negócio desastroso para o Estado português”, não tendo sido “maximizado o encaixe financeiro nem salvaguardado o interesse nacional”.
Dirigindo-se às bancadas da direita, Hugo Carvalho comentou “o quão diferente seria se os avultados resultados líquidos que uma gestão pública também teria com esta empresa, mas quão diferente seria se pudéssemos investir coletivamente esse dinheiro enquanto Estado para satisfazer as necessidades do povo português”.
“Mas há aqui neste plenário, nas bancadas à direita, os que preferem que esses resultados sejam rendas para uma multinacional qualquer”, lamentou o socialista, sinalizando que “foi assim na ANA, foi assim nos CTT, foi assim na Groundforce e queriam que tivesse sido assim na CP e na Caixa Geral de Depósitos”.
O parlamentar explicou aos deputados que, “quando a IP concretiza, em nome do Estado português, um investimento no nosso território, não está apenas a erguer infraestruturas, está também a construir oportunidades, a criar justiça, a respeitar as ambições das populações e a abrir portas para um futuro melhor”.
Vincando que os socialistas não confundem empresas públicas com o Estado social, Hugo Carvalho assegurou que também não ignoram “que representam um elo vital na teia que nos une enquanto comunidade”.
“As empresas públicas não são caprichos nem coisas abstratas. São, muitas vezes, o resultado de uma intervenção pública, ainda que temporária, para garantir o emprego, para dar estabilidade à vida das pessoas, para defender choques em cadeia entre empresas com as quais se relacionam, para que não se perca valor na nossa cadeia de produção e na economia”, esclareceu.
Estado mínimo serve apenas alguns
Hugo Carvalho dirigiu-se novamente às bancadas da direita para asseverar que “um Estado mínimo serve apenas alguns, poucos, eventualmente os que nunca precisariam do Estado, mas deixa de fora muitos”.
E deu como um “bom exemplo” a expressão utilizada na apresentação da Aliança Democrática – “do PSD e dos seus apêndices”: “Se o SNS fosse uma empresa privada já tinha falido”.
Ora, de acordo com o socialista, tal expressão é o mesmo que dizer que “nas mãos de quem quer um Estado mínimo só existem cuidados de saúde para quem os possa pagar”.
O deputado do PS concluiu a sua intervenção a clarificar que “respeito pelos contribuintes é mesmo entender que, numa sociedade de todos, o setor empresarial do Estado não pode ser tratado como uma mera empresa”.