

Maria Luís Albuquerque tem legado de austeridade e Governo reitera padrão de falta de diálogo
O Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do PS Pedro Delgado Alves considerou hoje que a escolha de Maria Luís Albuquerque para Comissária Europeia sem ouvir os partidos demonstra um “padrão” de ausência de “capacidade de diálogo” do Governo, que, assim, “comete um erro, quer do ponto de vista do funcionamento das instituições, quer da sua posição precária” de executivo minoritário.
Pedro Delgado Alves, em declarações aos jornalistas após o anúncio do Primeiro-Ministro, começou por salientar que a escolha “é da responsabilidade exclusiva do Governo”, lamentando, contudo, que o executivo não tenha ouvido previamente os partidos, em especial o principal partido da oposição, “para assegurar uma escolha consensual e sem polémica”.
“O PS assim o fez em 1999 e 2019, e em 2009 prescindiu mesmo de um nome seu reconduzindo durão Barroso”, lembrou.
O deputado assinalou que o Secretário-Geral do PS, Pedro Nuno Santos, foi informado “apenas minutos antes do anúncio público”, sem outros contactos prévios, observando que o Primeiro-Ministro “percebeu o erro” que seria” fazer o anúncio num evento partidário, como foi noticiado, “recuando para preservar a dignidade institucional da escolha”.
“Uma opção da exclusiva responsabilidade e da área política do Governo, mas que, no imediato, no que respeita ao mais importante numa escolha como esta que são as opções políticas que estão subjacentes a essa decisão, não é necessariamente uma boa notícia ou uma boa memória para muitas das pessoas”, afirmou.
O Vice-Presidente da bancada do PS recordou que Maria Luís Albuquerque “foi responsável direta por um conjunto de medidas muito gravosas para um conjunto muito significativo de setores do país”, como pensionistas, trabalhadores da Administração Pública e os próprios serviços públicos.
“Tem um legado no que diz respeito à gestão de uma política de austeridade que, em muitos aspetos, ia até para lá daquilo que a União Europeia naquele momento defendia”, criticou.
“Caso não tenha reencontrado o caminho ou percebido que os tempos mudaram entretanto, pode representar um regresso ao passado que não é necessariamente positivo até na ótica das instituições europeias”, alertou o deputado do PS, salientando que a União Europeia “mudou bastante” desde que foi ministra das Finanças do Governo de Passos Coelho.
Um percurso que “não foi isento de polémicas”, apontou, recordando os Swaps, a resolução do BES e uma “gestão orçamental que não foi bem-sucedida” por não cumprir os objetivos de défice e de dívida, considerando, por isso, que “não é um regresso a um passado virtuoso”.
Pedro Delgado Alves sublinhou ainda que “o Governo escolhe alguém da sua área política, alinhado politicamente, mesmo dentro do próprio partido do Governo”, lembrando que “Maria Luís Albuquerque sempre esteve do lado de Luís Montenegro e traduz as mesmas opções políticas que, de alguma maneira, não terão digerido ainda totalmente o que foi a mudança de paradigma desde 2015, quer em Portugal quer na União Europeia, com a possibilidade de ter políticas públicas diferentes”.