“É fundamental e urgente preservar o Barranquenho” para “evitar a perda irreparável deste património linguístico inestimável de uma marca de identidade própria”, afirmou hoje, no Parlamento, o deputado do Partido Socialista Pedro do Carmo na apresentação do projeto de lei do PS sobre a proteção e valorização do Barranquenho.

“Valorizar a identidade, a diversidade e as vivências partilhadas são sempre bons pontos de partida estratégicos para a firmação das comunidades, dos territórios e do país”, e, por isso, o Grupo Parlamentar do PS elaborou esta iniciativa para valorizar e defender o Barranquenho, explicou Pedro do Carmo, que sublinhou que “mesmo assumindo a existência de uma realidade homogénea e monolingue no perfil linguístico de Portugal, há espaço para a diversidade”.

O deputado socialista explicou que “a realidade do Barranquenho e o incremento significativo da produção científica em torno da sua evolução e caracterização evidenciam hoje, com clareza, mais uma realidade linguística singular em Portugal e até na Península Ibérica, que, pela sua subsistência até ao presente, deve merecer também uma intervenção normativa, em linha, aliás, com os movimentos europeus e internacionais de proteção deste tipo de património imaterial linguístico”.

Pedro do Carmo salientou que, mesmo que ainda exista um “debate científico em torno da sua classificação” – uma língua de contacto e minoritária, ou um dialeto, uma fala fronteiriça ou mesmo uma fala raiana –, “todos os investigadores são unânimes na deteção de uma manifestação cultural imaterial identitária clara e merecedora de proteção e valorização”.

O socialista clarificou, em seguida, o que é o Barranquenho: “Uma língua híbrida, ainda que sem tradição escrita, única no mundo pelo seu caráter misto de português e espanhol, falado pelos cerca de 1.300 residentes e por todos os naturais do concelho há vários séculos”.

Ora, para o Grupo Parlamentar do PS, a salvaguarda do Barranquenho “passa pelo reforço da documentação e da investigação” num “impulso de preservação que deve transcender as fronteiras do concelho de Barrancos, por estar em causa uma marca de identidade local, regional, nacional e até europeia”.

“Tem de haver futuro para o Barranquenho e para a sua comunidade, porque só um povo com memória e identidade está habilitado a construir o tempo que está por vir”, asseverou.

Diploma é um compromisso com os barranquenhos

No encerramento do debate, o deputado Pedro do Carmo destacou que este projeto do Partido Socialista é “um sinal de compromisso com os barranquenhos e com a sua língua, diferente, singular e à qual se associam vivências únicas”.

Recordando a visita de Jorge Sampaio ao concelho de Barrancos no ano de 2002, Pedro do Carmo terminou a sua intervenção citando o antigo Presidente da República: “Temos de preservar as tradições e perceber os povos mais distantes”.