

Nacionalidade: Não faz política séria quem utiliza tragédias para mascarar a realidade
O líder parlamentar do PS, Pedro Delgado Alves, criticou quem deturpa factos e acicata ânimos para falar em “descontrolo na atribuição de nacionalidade” e “limitação do reagrupamento familiar”, e recordou quando, em 2006, o então deputado Luís Montenegro pedia uma lei da nacionalidade menos restritiva.
Durante o debate de urgência requerido pelo Chega, Pedro Delgado Alves defendeu que estes debates “são oportunidades para esclarecer e consensualizar”, mas não foi o que aconteceu da parte de algumas bancadas, que tentaram “deturpar com factos que não correspondem à realidade”.
Portugal precisa de “contar com os migrantes que, junto de si, hoje trabalham” e o debate desta tarde deveria ter servido para se “arranjar as melhores fórmulas para garantir que isto acontece, que estas pessoas continuam a contribuir para a Segurança Social”, alertou.
Mas o deputado André Ventura, que fez a intervenção inicial, aproveitou para “acicatar ânimos”, “deturpar factos” e “misturar todos os temas possíveis que pudesse associar às migrações”, denunciou.
O presidente do Grupo Parlamentar do PS quis responder aos dados falsos: “Não se nasce, em Portugal, português pelo mero facto de se nascer no território nacional. A lei da nacionalidade exige que quem nasce em território nacional tem de ser filho de alguém que está legalmente em território nacional”.
“É importante que se possa responder àquilo que é falso”
Pedro Delgado Alves comentou que se “fala muito de números”, mas depois “não há evidência nenhuma sobre o ‘perigo galopante’ das alterações da nacionalidade”.
O dirigente socialista pediu, em seguida, que se faça “política séria” e não se utilize “tragédias para tentar mascarar a realidade”. Pedro Delgado Alves referia-se ao caso das sete vítimas mortais do acidente de aviação na Índia que tinham nacionalidade portuguesa.
“Hoje é sabido que estas pessoas descendem de cidadãos portugueses nascidos no então Estado português da Índia. Muita vontade tem a bancada do Chega para invocar o ‘passado glorioso’, mas não é capaz de olhar para o teto da Sala das Sessões e verificar que, a dada altura na história deste país, o Estado da Índia elegia deputados nesta Câmara e que o Estado de Índia e os seus descendentes, de facto, têm nacionalidade portuguesa”, asseverou.
Pedro Delgado Alves clarificou que “essas pessoas merecem, como nossos concidadãos que são, respeito neste debate e devem ser poupados”. “A tragédia familiar dessas pessoas deve ser poupada”, exigiu.
Montenegro deveria ponderar posição do PSD em 2006 sobre nacionalidade
O líder parlamentar do PS referiu-se a uma intervenção do então deputado Luís Montenegro, no ano de 2006, sobre a lei da nacionalidade: “Dizia que se propunha como requisito de residência o prazo de seis anos, alterando apenas o prazo para os cidadãos não nacionais de países lusófonos”.
“Era importante que o PSD recordasse aquilo que em tempos dizia”
Nesse discurso, Luís Montenegro entendia que “passar de 10 para seis anos o requisito da residência era uma medida positiva” e pedia ao Governo socialista para, “no caso dos nacionais de países lusófonos e nos casos dos países dos Estados-membros da União Europeia”, seguir a linha de orientação do PSD “sendo menos restritivo e encurtando o prazo de residência para quatro anos”.
Pedro Delgado Alves defendeu que o PSD deveria ponderar e “eventualmente regressar” a esta sua posição, e instou todos os partidos a ajudar a “construir um país mais justo onde há espaço para todos”.